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domingo, 17 de novembro de 2013

Quando nasce um bebê…….. nem sempre nasce uma mãe!!!!

Sempre ouvi essa frase "QUANDO NASCE UM BEBÊ, NASCE UMA MÃE"
Eu jurava que isso era a mais linda e pura verdade até que….. Nasceu o JG. Eu o amava, muito! Sempre amei desde que estava na minha barriga, desde aquele positivo que me deu uma alegria sem tamanho, que será motivo para outro post. heheheh

Mas vamos ao que interessa… Estava lá, eu e meu amado bebê. Mas cadê a mãe?
Aquele ser que sabe reconhecer tudo no seu filho, o conhece como ninguém… Sabe reconhecer todos os seus choros, são experts em trocas de fraldas, sabem o quem fazer em todas as situações. Sabem porque o bebê tem febre, porque não tem, sabe reconhecer todos os sintomas de doenças e mal estar possíveis. Sabe como agir em todas as ocasiões, sabe que roupa colocar para sair de casa, para ficar em casa, em dia de frio em dia de calor… Enfim, aquele ser de sabedoria suprema que cuida magnificamente do seu rebento.
Essa mãe, no meu entendimento, tinha ficado perdida em algum lugar entre a sala de espera da internação da maternidade e o quarto…. Que medo, que preocupação… E a coragem para dar banho???? Essa só deu as caras uns 15 dias depois. Me perguntava se eu tinha algum problema. Se eu tinha vindo com uma peça a menos na caixola de mamis. Até que descobri que assim como meu bebê, meu filho amado, ia crescendo e se desenvolvendo, eu também crescia como mãe. Deixava a cada dia de ser menos filha e virava cada vez mais mãe.

Hoje, 3 anos e 5 meses depois que me tornei mãe, me sinto realmente uma mãe. Consigo cuidar dos meus filhos sem me preocupar muito se estou fazendo tudo certo ou não. Consigo compreender a individualidade de cada um. Saber que nem sempre o que é bom pra um é bom para o outro. Que as pessoas dão conselhos e devo ouvir cada um deles. Mas também filtro o que me serve e o que não. Consigo ter uma percepção maior dos meus instintos e da minha intuição.

Hoje me sinto mais mãe do que uns anos atrás, e sei que daqui alguns serei mais mãe do que sou hoje. Nem sempre quando nasce um bebê, nasce uma mãe. Mas tanto bebê quanto mamãe crescem e aprendem juntos a serem mãe e filho.

domingo, 20 de outubro de 2013

Impressões de uma Viagem


Sem avisos, jogaram-me para fora do lugar onde eu vivia. Calor, proteção, comida nas horas certas, água morna por todo lado – eu não queria sair de lá. Então, tudo começou a se mexer, empurrando-me no rumo de um caminho que eu não queria tomar.
    Veio a luz e veio o frio. E todos aqueles sons malucos. Choro, não sei como. Respiro e abro a minha boca e também sou capaz de emitir sons.
(Muito depois, haverão de contar-me que nasci nesse dia. A viagem para fora do útero da minha mãe. O início de outra viagem, mais assustadora ainda: a vida.)
    Por ora, nada sei. Cheguei aqui sem explicações preliminares. Sinto medo e sinto frio. E choro. Estranhos seres me tomam em suas mãos como se me esperassem há muito. Manuseiam-me com rapidez, anotam coisas sobre mim. Então ouço uma voz conhecida. A voz dele. De repente, estou perto do seu calor. Vejo pouco, apenas um borrão. Mas sua voz, ah, eu conheço a sua voz. Ele me encosta sobre si, e ouço um som ritmado, bum-bum-bum. Esse ruído eu também conheço de algum lugar. Meu filho, ele diz. Eu abro e fecho os olhos. Não tenho outra resposta para lhe dar. Ele se contenta, sinto o calor do seu corpo mais perto de mim.
    Então, acontece uma coisa maravilhosa: escuto a voz dela! Sinto que me pegam com delicadeza. Eu choro. Choro porque só sei chorar. Choro porque estou feliz. Ela me toma nos braços. Me acalenta, me dá comida, e eu como pela primeira vez, e sinto um prazer incrível. Estamos muito juntos. E outra vez eu ouço a sua música, bum-bum-bum. Embora eu não esteja em casa, sei que cheguei aonde devia. Estou muito, muito cansado. Fecho os olhos e… durmo. Muitas coisas acontecem depois. Não sei nem ao menos nominá-las.
    Agora já reconheço o cheiro dela, o gosto da comida que vem dela, o bater do seu coração entre todos os outros corações que batem pra mim. Quero ficar perto dela. Às vezes choro de contentamento. Às vezes, de saudade. Começo a reconhecer vozes. A voz dela e a voz dele. Meu filho, ele diz. Diz sempre isso... Quando tenho medo, choro; quando tenho fome, choro; quando tenho frio, choro. Me ninam, me alimentam, me agasalham. Eu durmo, acordo e torno a dormir. Ela vem e ela vai. Seus dedos são macios quando ela me limpa, seus dedos são firmes quando tira minha roupa e me mergulha na água tépida. Eu gosto, mas choro. Depois é bom, a água dá sono... E durmo, quentinho.
    Saio para um mundo ainda mais luminoso e barulhento. Vejo sombras e luzes. Ela diz: vamos para casa, filho. Vamos para casa, então. Mas a minha casa é ela. Porém, não digo nada. Apenas choro. Ela me beija. Sinto seu cheiro... E durmo num balanço enquanto eles falam. Nosso filho. Seu primeiro passeio de carro. Parecido com você. Um guloso. Estou feliz. Eu te amo.
    Eu acordo num lugar com novos sons e novos cheiros. Seu quarto, ela diz. Eu choro. Ela me troca, me acalenta, me satisfaz a fome. Mas eu ainda choro. Estou ansioso. Tanto tempo naquele país escuro e morno, e agora um lugar, e outro ainda. Mas ela desiste de mim e me nina por horas, enquanto meu choro passeia de mim para ela, dela pra mim. No final, choramos juntos. Não fique assim, querida, diz ele. É o primeiro dia. Mas tenho medo, ela diz. Medo de cometer algum erro. Tenho medo de que ele sinta fome, de que ele sofra, tenho medo de que ele tenha medo.
    Eu finalmente parei de chorar. Tenho fome e mamo até me saciar. Esse novo mundo parecer ser o meu lar definitivo, pois já começo a reconhecer seus ruídos e suas luzes. Todo dia, ela me banha. A água é morna. Eu choro, depois não mais. Sinto suas mãos percorrendo todo meu corpo. Ela se demora em várias partes de mim. Diz coisas... O coto está secando. Ele tem dobrinhas na coxa. As orelhas do papai. Ela me veste e sacia minha fome. Eu faço muito cocô, e ela precisa começar tudo outra vez. Faz frio fora da roupa que ela me pôs. E eu choro, e ela canta. Eu choro e ela se apressa, cabeça, pescoço, braços e pernas, ela sabe tudo sobre mim. Quente e seco outra vez, eu durmo.
    Agora eu já aprendi a sugar com força o leite. Sei que quero ficar perto dela, da música que vem do seu corpo. Ela diz: é a sua casa, meu filho. Outros vêm me ver. Que bonitinho. Bilu-bilu. O pai chega e diz: meu filho. Eu me acalmo. Vejo coisas azuis que dançam sobre a minha cama. Ouço a música que faz dançar as coisas azuis. Móbile, ela diz. Essa dança me dá sono.
    Começo a entender este novo mundo... Aqui quase não há silêncio nem escuridão. Eu respiro, eu como, eu choro. Ela me diz muitas coisas que eu não entendo, mas a sua voz me tranquiliza, e então paro de chorar.
    Faz uma semana que estou aqui. Não tenho certeza de como se chama este lugar. Tenho uma vaga ideia de que se chame João. Eles dizem isso a toda hora. João, João, João. Um país curioso esse. Visitantes estranhos surgem nas horas mais impróprias, e ela precisa me deixar de lado (ou deixar-me com eles) para que fiquem satisfeitos. Também faz frio e dói um pouco estar aqui. Porém, a comida é boa e farta. E o serviço, de primeira.



Texto publicado na revista Cláudia Bebê Edição 583B e escrito por: Letícia Wierzchowski, 37 ano, é mãe de João, 8, e de Tobias, 1 ano e 10 meses. Tem 15 livros publicados, entre eles os romances A Casa das Sete Mulheres e Uma Ponte para Terebín (ambos da ed. Record), além do infantil Era Outra Vez um Gato Xadrez.